segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Precisamos falar sobre o preconceito racial

Ando muito interessada no tema racial. E tenho pesquisado muito sobre o tema e tentado aumentar minha empatia. Empatia, que quer dizer, colocar-se no lugar dos outros. E esse texto aqui, pra mim, é o mais sensacional já escrito sobre o assunto. Visto que me colocar, literalmente, no lugar dos outros nesse caso é algo impossível, toda a minha pesquisa vem de leituras, filmes e do interesse em ouvir da vida e dos sentimentos de pessoas que sofrem preconceito racial.
Americanah foi o primeiro livro que me ajudou a pensar sobre isso e me apresentou tantos outros cenários nos quais eu nunca tinha pensado. O livro narra a história de uma nigeriana que foi viver nos EUA e todas as suas percepções do racismo na sociedade americana. Eu nunca tinha olha por essa perspectiva e reconhecia os negros saindo da África apenas no período da escravidão. Mas imaginem hoje, negros bem sucedidos e reconhecidos em seus países que saem de lá para turismo ou negócios e são discriminados em outros lugares. Pessoas, que normalmente não se sentem diferentes mudam de continente e enfrentam uma realidade antiga e comportamentos de anos atrás. Reconhecer que eu nunca tinha penado sobre isso me fez perceber como a minha visão sobre o assunto era míope.
Acontece que Ifemelu - a personagem principal do livro - fugiu da crise Nigeriana para os EUA e lá a vida não foi sempre fácil. Seus primeiros dias ali me fizeram chorar e até aquele momento os fatos eram independentes da questão racial, porém mais condicionados à sua econômica, de extrema pobreza. Chorei e depois tive muita raiva das escolhas que ela fez, da sua fraqueza e do seu orgulho besta. Mas a bondade de alguém fez as coisas melhorarem e a vida de Ifemelu foi entrando nos eixos, até que ela criou um blog onde narrava acontecimentos reais e emitia opiniões sobre os casos do cotidiano. O blog (com o maior nome que já vi na vida) ficou famoso e passou a ser o sustento da garota.
O livro não tráz uma discussão profunda, mas leva o assunto à tona e gera reflexões. Além disso ele me deu a maior indicação dos últimos tempos: a biografia de Barack Obama. E eu, que já admirava seu carisma e sua espontaneidade passei, talvez, a enxergá-lo também como um ser humano normal, cheio de questões. Entender suas angústias e seus dilemas que afloraram desde a infância, onde cresceu sendo o único negro de uma família branca, em uma época onde os EUA ainda viviam os resquícios da dura segregação racial norte x sul, sua luta por entender suas origens africanas e sua família queniana, da parte de um pai que ele mal conheceu, nos aproxima desse ser humano. Obama falou sobre tudo isso e narrou com sinceridade e beleza momentos marcantes de sua vida. Fiquei me perguntando se ele teria escrito um livro tão sincero se, naquela época, pudesse imaginar que um dia seria presidente. Mas ele escreveu e todos deviam ler, com o objetivo de aumentarem sua empatia pela causa e pelas pessoas que sofrem preconceitos raciais. 
O que mais aprendi lendo esses dois livros é que precisamos discutir o preconceito racial e que muito ainda precisa ser feito para reparar os danos de anos atrás, quando negros eram tratados como escravos e mesmo após serem libertados não tinham condições de se manterem e garantirem uma boa estrutura para suas famílias. Reconheci que esse assunto ainda é velado e que precisamos discutir mais e buscar os motivos pelos quais crianças se tornam adultos preconceituosos. Reafirmei que nós precisamos nos misturar de verdade e conhecer uns aos outros na sua essência, nos seus dramas e ansiedades. Um país, que recentemente, viveu casos públicos, como os xingamentos a jogadores de futebol, jornalistas e artistas não pode se abster de falar do assunto. Os formadores de opinião deviam estar discutindo o preconceito com mais frequência e colocando o assunto em diversas pautas infantis, para que nossas crianças se transformem em adultos melhores que seus pais e não mantenham seus preconceitos. Para que os negros tenham as mesmas oportunidades que os brancos e possam ser qualquer coisa que desejarem, com a atriz americana, Viola Davis, bem lembra nesse vídeo aqui. Nesse quesito, os EUA, que há poucos anos atrás viviam um preconceito escancarado e toleravam atitudes absurdas, como a obrigatoriedade de um negro ter que ceder seu lugar no ônibus a um branco, ainda está anos luz na nossa frente. Enquanto sou capaz de listar mais de dez negros influentes na América, no Brasil, consigo pensar em dois, talvez três e alguns outros que sempre estão a fazer papéis de escravos nas novelas de época. Ainda assim muitos ousam dizer que somos um país sem preconceito racial e é por isso que precisamos falar sobre o assunto.

Em tempo:

Uma lista de filmes imperdíveis sobre o tema:

Doze anos de escravidão
The Help (Histórias Cruzadas)
Nina Simone (documentário do netflix)


Um comentário:

  1. Ao ler seu ótimo post, me veio em mente a irmã-gêmea do preconceito racial, a discriminação social.
    Ao terminar de ler seu post, ouvi Nina Simone e uma das poesias cantadas que mais me inspiram em vida, Ain’t got no I’ve got life, https://www.youtube.com/watch?v=q7YjY8W8NZA
    Também me lembrei de porque senti vergonha de ser humano ao ver Mississipi em Chamas, https://www.youtube.com/watch?v=Wp3gPD23QzE

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