domingo, 3 de novembro de 2013

Turquia - um caso de amor e nem tanto

Meu pai me ensinou que odiar é forte demais, basta não gostar e foi muito bom quando descobri isso. Quando descobri que pro sentimento bom não há limite, mas pro ruim não precisamos exagerar. Por isso o título do post não foi o clichê: um caso de amor e ódio, mas sim um caso de amor e nem tanto amor em alguns momentos.

A primeira coisa que eu posso dizer em favor da Turquia é que qualquer lugar que tenha ficado depois da Grécia no roteiro já começa em desvantagem, então esse é um ponto a considerar. Outro fator foi a mudança climática que pegamos por ali. Sabe aquelas fotos de biquini e dias ensolarados que apareceram no post da Grécia? Esqueçam! Por aqui compõem o traje gorros, luvas e cachecóis, que logicamente não estavam na mala.

Nosso roteiro foi: Athenas - Izmir - Goreme (Capadócia) - Istambul

Já adianto que esse não foi o roteiro ideal, visto que o trecho Izmir - Goreme compreendeu uma viagem de 12 horas de ônibus, mas diante das nossas alternativas foi excelente. O que acontece é que mudamos o roteiro no meio da viagem, exatamente 2 dias antes de irmos para a Turquia. A ideia original era chegar de ferry no litoral turco e passar em Pamukkale, um dos mais famosos destinos turíscos, que tem belíssimas paisagens, mas acabamos percebendo que não valeria a pena, pois perderíamos muito tempo no deslocamento e um precioso dia nas ilhas gregas e na companhia dos amigos. Então aqui vai o primeiro "nem tanto" da Turquia: dificuldade de locomoção. Um destino tão procurado como Pamukkale não poderia ter um acesso tão difícil, já li sobre muita gente que desistiu de ir lá devido a esse problema e sobre outros que se arrependeram, pois não acharam que valeu a pena o perrengue para chegar.

Izmir foi o meu primeiro contato com a Turquia e foi duro porque eu sou uma pessoa que preciso me comunicar, mas lá eu não consegui, pois achar alguém que fala inglês é uma tarefa bastante desafiadora. No fim deu tudo certo, mas são momentos de tensão até chegar no destino. O trajeto era aeroporto-rodoviária e chegamos bem, mas até agora acho que recebi o troco errado, visto que em nenhum lugar tinha o preço da passagem, o motorista não me entendia e tenho a impressão de que vi outras pessoas pagando menos que eu paguei. Na rodoviária foi outra luta: o lugar parece um leilão, com os funcionários das empresas gritando os destinos e te aliciando (igual a rodoviária de BH, mas lá é legalizado), outra coisa que me dá a impressão de que estou prestes a ser enganada. Quando chegávamos no balcão ressurgia o poder das mímica e meus agradecimentos pelos números serem universais, pois só assim nos entendíamos com os funcionários. Já na primeira cia. quase caí para trás ao descobrir que o ônibus duraria 17 horas e não as 12 esperadas, mas felizmente depois de muito andar e de caras de desesperados encontramos uma boa alma que falava inglês e nos deu boas informações, do tipo: qual era a única cia. que fazia o trajeto sem várias paradas. Passagens compradas e com algum tempo de sobra fui conhecer meu primeiro caso de amo da Turquia: as pessoas simpáticas. Escolhemos uma lanchonete da rodoviária onde tinha  wi-fi para esperar o horário do ônibus e ao ver o meu problema com o frio o dono simplesmente me cobriu com um cobertor. Fofo né? Além disso ele tentou muito se comunicar, com uma mistura de inglês, italiano e mímicas, nos ensinou algumas coisas sobre a cultura turca e os chás do mar negro! Ponto para a cordialidade!

Meu cobertor turco.
Típico chá turco. Esse vindo direto do Black Sea.                 
12 horas depois (em um ônibus sem banheiro, mas com serviço de bordo, wi-fi e tv individual, mas em turco) chegamos em Nevshvir e aguardamos alguns minutos para pegar uma van que nos levaria à Goreme. Problema 2: não bastasse o frio começou a chover e até onde eu sabia tudo que se tem para fazer ali é ao ar livre. Chegamos no hotel um pouco antes do horário do check-in, mas o pessoal foi super atencioso, nos levou para tomar café da manhã enquanto nosso quarto ficava pronto e nos deu algumas dicas da cidade. Esse primeiro dia foi praticamente perdido mesmo. A tarde, quando a chuva melhorou, fomos almoçar e depois fomos ao Open-Air Museum, que costumava ser uma espécie de mosteiro com várias igrejinhas nas cavernas,  saindo de lá queríamos andar um pouco pela cidade, mas a chuva começou novamente a dar indícios e decidimos voltar. 


Mas antes conseguimos reservar nosso jantar no Top Deck Cave, o número 1 do Trip Advisor e esse foi o melhor do dia. O espaço é bem pequeno (não chega nem a 10 mesas) e pra nossa sorte pegamos uma das mesinhas do chão. O cardápio é restrito, mas a comida muito boa e a sobremesa sensacional. O dono explicou que tudo é feito na hora e não reaproveitam nada: mais um caso de amor! Mesmo tento um problema com o meu prato, que era muito apimentado e eu não fui avisada, isso não fez a pontuação do lugar cair no meu conceito.
Nosso cantinho no Top Deck Cave. Adorei esse nome!
No segundo dia, após uma tentativa frustada de andar de balão (acordamos às 5:30 e fomos para o ponto de encontro, onde esperamos até às 7:00 para depois sermos informados de que não haveria passeio devido ao tempo), decidimos fazer um passeio, pois estávamos um pouco perdido e queríamos aproveitar bem nosso último dia. A rota escolhida foi a green (basicamente são duas rotas famosas: red e green), que começava com uma parada para vistas, passava por uma cidade subterrânea, pelo Ilhara Valley e por outro mosteiro. Foi bom fazer o passeio, pois para conhecer esses lugares a outra opção seria alugar um carro, moto ou quadriciclo e com certeza ainda deixaríamos de ir algum lugar, por não saber da importância e sem guia... No fim, tanto financeiramente quanto pelas possibilidades achamos que valeu a pena fazer o passeio. E meu caso de amor desse passeio foi o Ihlara Valley, que é um vale rodeado por canions pelo qual ainda fizemos uma trilha de meia-hora para chegar no restaurante. O lugar é maravilhoso, você fica o tempo todo sem saber para onde olhar, tamanha é a beleza da natureza.

Vista do Pigeon Valley




Esse passeio dura praticamente o dia todo, de 9 às 17, mas voltamos para a cidade a tempo de passear e ver o pôr do sol de um mirante.



O jantar foi em restaurante escolhido ao acaso, mas muito bom, onde comemos uma deliciosa spa de lentilhas. Caso de amor: a culinária da Capadócia.

Último dia: correr para o aeroporto, mas antes tentar fazer o passeio de balão, porque vamos combinar né? Maior azar do mundo é ir na Capadócia e não conseguir andar de balão.  Mas esse não foi o nosso caso. Apesar da correria deu tudo certo e pudemos ter essa experiência e essa vista indescritíveis!

Sol nascendo e uma infinidade de balões, que se misturam ao relevo da área.
 Maravilhoso.
Voyager foi a empresa com a qual voamos. Muito boa e estruturada.
O piloto estava o tempo todo se comunicando com os outros e muito atento. 
Eu nunca tinha pensado como era pra entrar na cestinha,
mas algumas pessoas se assustaram ao ver essa foto, pois achavam que tinha uma porta. 
Voar de balão com certeza entra pra lista dos casos de amor, mas o modo como a cia. lidou com os clientes no dia anterior (nos deixando esperar por uma hora e meia sem nenhuma informação) é um "nem tanto" dos grandes. A grana movimentada por esses passeios é altíssima: em cada cestinha cabem umas 20 pessoas e o preço por pessoa é 135 euros. Então imaginem o que eles não deixam de ganhar em um dia sem passeio e por isso esperam até o último minuto para conseguirem realizar o passeio, mas as coisas poderiam ser melhor informadas e os clientes terem a opção de esperar ou não, mas é importante dizer que ela não foi a única a lidar dessa forma: todas as outras fizeram o mesmo, por isso indico sim a nossa companhia, pois o tratamento vip que nos dispensaram no outro dia, pois era preciso que chegássemos de volta no hotel às 8, foi o que nos permitiu voar de balão.

Missão cumprida pegamos o vôo de Kayseri para Istambul e aqui vem o maior dos "nem tanto". Após toda a nossa correria para voltar a tempo do passeio de balão pegamos o transfer às 8 horas e ele ficou até 8:45 rodando pela cidade, pra colocar o máximo possível de passageiros. O motorista, lógico, não falava inglês, e todos os passageiros já estavam extremamente nervosos, com medo de perder o vôo. Chegamos muito em cima da hora e precisamos pedir outros passageiros para nos deixarem passar na frente (na Turquia tem que passar pelo raio-X também na entrada para o saguão do aeroporto). Em Istambul, outra novela. Não tinha nenhum balcão de informações ou meio de transporte fácil para ir do aeroporto ao centro. Pegamos um transfer que mais uma vez ficou rodando até desembarcar todos e um motorista nervoso, que não falava inglês e não sabia o endereço do hotel. Mas no fim também deu tudo certo.

Istambul é uma cidade linda. Sou suspeita, pois adoro cidades que tem um contato tão próximo com a água, sejam rios o mares, como é o caso do Bósforo. Só isso já faz da cidades um lugar especial, somado ainda à arquitetura e às grandes construções, não tem como dar errado. Mais uma vez a falta de pessoas que falassem inglês e a dificuldade de locomoção não nos deixou aproveitar tudo o que queríamos da cidade. Deixamos de ir em alguns lugares por causa disso (como a miniaturk), mas no fim Istambul é um lugar que vale a pena ser visitado. Ficamos 4 dias inteiros, mas daria pra ficar 3 tranquilamente.

Casos de amor: restaurantes onde os turcos vão para jogar gamão, outros jogos e fumar narguilê. Muito bacana! O Bósforo. Vista da Torre Gálata. Mesquitas, Cisterna.

Nem tanto: cardápios reduzidos ao Kebab. Gran Bazar (odiei, ops,  não gostei nem um pouco desse lugar), meios de transporte públicos.

Atravessando o Bósforo
Vista da Torre Gálata
Hagia Sofia - Santa Sofia
Blue Mosque - Mesquita Azul
Por dentro da Mesquita Azul
Restaurante onde os turcos vão jogar.