segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Leonard, eu te amo!


Tenho um novo melhor amigo. E nunca o vi pessoalmente. Leonard Mlodinow é o autor de O Andar do Bêbado, sobre o qual já escrevi aqui. Sua outra obra, Subliminar (que quer dizer: o que não ultrapassa o limiar da consciência), é o assunto desse post. Pela segunda vez o autor parece ouvir várias de minhas angústias e questionamentos e explica muitas coisas sobre as quais eu já pensei e questionei um dia, o que me faz querer conversar com ele horas a fio. Parece que o cara tem resposta para tudo. 

Nesse livro Leonard responde sobre a influência do inconsciente em nossas vidas e mantém o seu vocabulário fácil, a mania de listar experimentos e situações da sua vida real familiar para provar as teorias que apresenta. Como Stephen Hawking analisa, Mlodinow torna a ciência acessível e divertida.

O tipo de teoria que ele apresenta em Subliminar explica, por exemplo, como tomamos decisões padronizadas, mas sem qualquer razão lógica. Uma delas é apresentada na pesquisa que mostra, nos EUA, como pessoas tem maior propensão a se casar com quem tem o sobrenome igual. Na média 50% a mais de vezes. Ironicamente, o coração tem razões que a própria razão desconhece, como o autor bem lembra no início do capítulo 1 (O novo inconsciente). 

Enquanto em vários capítulos eu comprovei coisas que já sentia, no capítulo 3 (Lembrança e esquecimento) eu precisei rever todos os meus conceitos. Basicamente, em alguma parte do capítulo cheguei a achar que todas as minhas lembranças são invenções do meu inconsciente e minha memória pode estar me pregando várias peças. Discutir sobre quem estava certo sobre determinas lembrança era algo que eu fazia com certeza e do qual ainda não consegui me livrar completamente, mas as pesquisas apresentadas mostram que nossa memória nunca é tão boa quanto parece. 

Por outro lado, o capítulo 5 (A importância de ser social) me ajudou a discutir sobre algo que sempre senti, mas nunca fui capaz de elucidar: como as interações sociais são importantes em nossas vidas. Durante um tempo achei que essa era uma característica minha, que tenho uma alta frequência afetiva (que é explicada aqui), mas Subliminar mostra que essa é uma necessidade de todo ser humano, mesmo que ele não a perceba. É comprovado que dores sociais são capazes de gerar dores físicas nas pessoas e que podem, inclusive, ser aplacadas por analgésicos. Em resumo: a falta de interações sociais pode até influenciar negativamente nossa saúde e gerar inúmeras consequências. Tomar um Tylenol ajudaria a curar a consequência, mas como boa engenheira de produção que tento ser, o método mais assertivo para resolver o problema seria atacar a causa raiz, ou seja: resolver o problema criando interações sociais para você mesmo. Frequentar uma aula em conjunto, um grupo de estudos ou um trabalho voluntário é mais eficaz e traz maiores benefícios que entupir-se de analgésicos. por isso toda vez que você resolver ficar acomodado em casa, com preguiça de encontrar pessoas, lembre-se das palavras de Leonard: "As ligações sociais são um aspecto tão básico da experiência humana que sofremos quando somos privados delas." E lembre-se que, nas medidas corretas, precisar de interações sociais, precisar pertencer a um grupo, não significa carência, mas é apenas uma das características que nos fazem humanos.

E por falar em grupos, esse tema também é abordado no livro. O capítulo 8 (In-groups e out-groups) discute como todos nós pertencemos a muitos grupos e como essa relação afeta nossa vida. Ele mostra como o fato de eu ser mulher, engenheira, brasileira e não fumante são características que me colocam dentro ou fora de determinados grupos e como isso pode ser usado a favor ou contra mim, a depender da referência. E por isso, às vezes fazemos coisas (inconscientemente ou não) para nos sentirmos partes de alguns grupos. O autor da um exemplo próprio, sobre como fumar um charuto esporadicamente tem um papel diferente no seu pertencimento aos grupo. De um lado o coloca nos grupos de físicos que gostavam de charutos, como Einstein, e isso o faz bem, mas por outro lado o coloca no grupo de fumantes lembrando aqueles que sofreram de doenças pulmonares, o que não é bom. A escolha de sobre qual perspectiva olhar é nossa e muitas vezes pode afetar nossa decisão sobre como agir ou sobre qual caraterística revelar. Esse assunto logo me lembra um episódio de Friends, no qual a Rachel conclui que ela era a única pessoa do trabalho que não fumava e portanto não fazia parte daquele grupo e das "reuniõezinhas" no fumódromo da firma. Diante disso sua primeira reação foi começar a fumar e claro que, com o jeito Rachel de ser, ela não se saiu bem atrapalhada na ação. 

Mas tem coisas que não podemos mudar, como por exemplo, o lugar onde nascemos. Recentemente identifiquei como o estado em que nasci me conectou a in-groups após uma mudança de cidade. São Paulo é cheia de mineiros e além de me sentir mais próxima de casa toda vez que encontro um, da conversa fluir facilmente e de uma afinidade nascer quase que instantaneamente até então tenho percebido que esse grupo é tido como um grupo de pessoas legais, o que facilita a aproximação inclusive com grupos de não mineiros. Funciona mais ou menos assim: "Você é mineira? Pão de queijo, cachaça, gente boa... senta aqui e vamos conversar porque você deve ser muito legal." Mesmo sabendo que em Minas não tem só gente legal, me conforta fazer parte desse in-group e com certeza isso facilita minha vida. Se eu fosse uma carioca na cidade de São Paulo, talvez tivesse uma maior dificuldade de inserção. E esse assunto sobre como generalizamos e classificamos os grupos, é discutido no capítulo 7 (Classificação de pessoas e coisas).

A política é um dos momentos onde o inconsciente se manifesta várias vezes e talvez o que mais devesse nos preocupar, ao entender que estamos deixando uma escolha tão importante para a parte não lógica da nossa mente. A partir do momento que pessoas escolhem outras pessoas como representantes vários fatores são levados em consideração e (infelizmente) é provado que um deles é a aparência. No capítulo 6 (Julgando as pessoas pela cara), o autor mostra como a aparência de um candidato pode influenciar a escolha dos eleitores. E por aparência, nesse caso, entende-se algo mais sutil que a beleza, como o próprio autor diz, é referente a um ar de inteligência, sofisticação e competência. Nesse caso, a pesquisa e as palavras do Leonard só provaram algo que pude verificar nas últimas eleições, ao ver a grande quantidade de pessoas que, por exemplo, alegavam não votar na candidata Marina Silva devido à sua aparência. É surpreendente verificar que mesmo sem fazer nenhum sentido lógico muitas pessoas ainda utilizam o que o autor chama de "modo primitivo" para fazer suas escolhas. A esperança é que ao identificar isso percebamos a situação e passemos a utilizar de fatores diferentes, não deixando nosso inconsciente nos guiar nessas situações e esse é apenas um exemplo de situações nas quais deveríamos criar essa consciência. 

O prefácio do livro diz que: "Se você quer entender o mundo social, se quer mesmo entender a si mesmo e aos outros, e além disso deseja ser capaz de superar muitos obstáculos que o impedem de viver uma vida plena e mais rica, você precisa entender a influência do mundo subliminar que se esconde em cada um de nós." É uma promessa e tanto e confesso que aprender e pensar sobre todos esses aspectos me ajudou a entender melhor as pessoas, a mim mesma e nossos comportamentos, ficando assim, menos difícil alterá-los. 

Em tempo: para quem quer saber mais. um bate papo sobre o livro, com o próprio autor;

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