quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A magia dos dados

Eu sou louca por gráficos e análises de dados. Esse é o momento (talvez o único) em que meu lado engenheira fala grita mais alto. E nunca vi uma forma tão interessante de demonstrar dados como nessa palestra do TED. O palestrante foi didático e extremamente criativo, além de abordar um tema de interesse universal: a taxa de natalidade e suas mudanças durante os anos. 

A partir desse vídeo também podemos relembrar um pouco do método científico, que resumidamente consiste em, após observações elaborar e testar hipóteses para compreender se elas eram verdadeiras e tirar conclusões a partir das análises. Estão aí duas coisas que todo mundo deveria aprender, além de ler e escrever: análise e interpretação de dados e método científico.

Hans Rosling é perito nesses assuntos. Nesse vídeo ele demonstra como criou uma hipótese e analisou os dados para definir a veracidade. Nesse caso foi avaliada a relação entre religião e taxa de natalidade e o resultado é surpreendente. No final ele ainda encontra uma maneira bem visual e didática de demonstrar suas conclusões. 
Veja você mesmo.


(Para ver com legendas em português, clique aqui).

Em tempo: Hans Rosling criou um site (gapminder.org) para divulgar estudos e diferentes ferramentas para análise de dados, como o surpreendente software utilizado no estudo apresentado no vídeo. Um dos projetos do gapminder é o Projeto Ignorância, que tem como missão lutar contra a ignorância das pessoas, proporcionando conhecimento estatístico sobre fatos de fácil compreensão. Vale a pena dar uma olhada.

The mission of Gapminder Foundation is to fight devastating ignorance with a fact-based worldview that everyone can understand. We started the Ignorance Project to investigate what the public know and don’t know about basic global patterns and macro-trends. We use surveys to ask representative groups of people simple questions about key-aspects of global development.

Nesse outro link é possível descobrir um pouco mais sobre as razões que o levaram a criar o site e seus projetos: 

http://www.ted.com/talks/hans_rosling_shows_the_best_stats_you_ve_ever_seen?language=pt-br#t-414555

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Porque eu adoro o ESQUENTA

Eu sou uma garota branca, de classe média alta, que estudou em escola particular a vida toda e depois cursou universidade pública e infelizmente quase todos os meus amigos também são assim. E quase todos também odeiam o Esquenta, programa da Regina Casé, transmitido pela Globo, aos domingos. A justificativa comum é que o programa é uma bagunça, mas eu não consigo compreender bem esse justificativa. Pra mim, o programa é uma festa e que festa boa não é uma bagunça? Compreenderia melhor se me dissessem que não gostam das músicas, dos debates, ou que acham as brincadeiras sem graça, mas bagunça não cola, mesmo porque nenhuma dessas pessoas vai em festas e fica quieta sentada na mesa, pelo contrário, elas caem na bagunça. Por essas e outras é que acredito que o problema vai muito além da "bagunça", mas fica no visual. As pessoas que participam do programa são, na sua maioria, negros e nós, brancos que não saímos do nosso mundinho, não estamos acostumados com isso. Por mais absurdo que seja, em um país com o tamanho da população negra que o Brasil tem, aqui branco ainda não está acostumado a estar em um lugar onde há a mesma proporção entre negros e brancos ou onde negros são maioria. 
O que rola no esquenta é uma aula em todos os sentidos. Músicos, intelectuais, ativistas sociais e educadores se misturam para falar sobre os mais variados temas.  Fazem parte do elenco fixo sambistas com Arlindo Cruz, Péricles, Mumuzinho e Leandro Sapucaí. Mas também fazem Alê Youssef e Ronaldo Lemos, os chamados colaboradores de conteúdo, formados em universidades renomadas, que poderiam ser considerados intelectuais, mas também estão no esquenta, ensinando sobre temas diversos,  interagindo com os músicos, com os convidados e com Luane, a menina da favela que ficou famosa por seus vídeos na internet e proporciona algumas das partes mais hilárias do programa. Assim como Douglas Silva, o menino que foi revelado em Cidade de Deus e hoje participa do programa sempre com um grande sorriso no rosto. Também tem vez a Natália, uma deficiente visual que a pouco conseguiu ingressar na universidade e já relatou absurdos casos de preconceito sofrido.
No meio disso tudo tem sempre muito funk, samba, pagode, rock e diversão. Sempre dou boas risadas assistindo e queria estar ali em todas as gravações brincando de roleta musical e dançando, mesmo sem levar jeito para essa arte. Mas além das atrações artísticas e da bancada o programa conta com seus convidados e tem sempre a intenção de transmitir conhecimento para quem está assistindo. Já teve o físico Marcelo Gleiser, a escritora Thalita Rebouças e durante a copa vários cidadãos de outros países, brincando e falando um pouco sobre suas culturas e impressões do Brasil.
Com todos eles eu aprendo muito e relembro alguns conteúdos já estudados, mas aprendo, principalmente, a ser mais tolerante com as diferenças. Aprendi, por exemplo, a respeitar o funk, aprendi a conhecer mais ainda a diversidade brasileira e entendi o lema "Xô preconceito" que não poderia se encaixar melhor em um programa, que é tão taxado injustamente. Eu, que raramente encaro algum preconceito na vida, vejo ali como a vida pode ser dura para algumas pessoas.  
Me alegro em pensar o quanto as pessoas que assistem podem estar aprendendo e se inspirando, como na história do médico que era catador de lixo, e tirou forças dos livros que achava nos lixões para seguir em frente e não se entregar às drogas, ou ainda no relato sobre os meninos de Salvador que quando foram recolhidos por uma ONG tinham os dedos comidos por ratos. Sobre eles Regina assumiu que no primeiro momento não acreditava em uma recuperação, não julgava que crianças e jovens tão sofridos pudessem se recuperar psicologicamente, mas após o trabalho e o amor demonstrado pelas pessoas da ONG a recuperação aconteceu e sobre esse caso a apresentadora falou emocionada, que ninguém tem o direito de desistir de ninguém. Em um dos programas, cujo tema eram os anos 20, falou-se sobre a semana de arte moderna de 1922, assunto eu já havia estudado, mas muitos outros não, e se 10% dos seus telespectadores saiu dali e foi pesquisar na internet algo sobre esse grande acontecimento da nossa história já foi um grande feito.
Sempre gostei de Regina Casé, acho ela autêntica e verdadeira. É uma famosa que realmente se preocupa com as pessoas diferentes dela, que fora das câmeras está na zona norte e em favelas. É alguém que na vida pessoal vive o mesmo que é retratado em seu programa, sem taxações, sem incompreensão. Regina Casé é mistura. É Brasil. Há quem não entenda isso e julgue os seus modos, mas há quem compreenda e aplauda, como Mano Brown, em uma recente entrevista: "Revolução de 2014 é o quê? É Regina Casé, tá ligado? Melhor programa [“Esquenta!”] da televisão brasileira hoje, querendo ou não. O movimento negro vai vomitar quando ler isso. É uma pessoa que vem lutando, vem disputando, vem acompanhando e chega um momento que faz um grande programa de TV, morou? Do jeito que as pessoas são, fazendo o que elas são, vivendo o que elas são. Não tenho vergonha de ninguém ali, tenho orgulho. Eu me vejo em todos eles ali."
Eu estou com Mano Brown. Pra mim, o Esquenta é o melhor programa da TV brasileira. Você pode até não concordar, mas por favor, me dê um argumento sem preconceitos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Legião de Dado

Todo o mundo dizia que Renato Russo era a Legião urbana. Quando ele morreu eu tinha acabado de descobrir a banda. Depois de ser apresentada a Eduardo e Mônica, na escola, por um livro de português. Lembro de ficar parada sem acreditar naquilo quando ouvi a notícia no plantão da globo. Ainda assim alguns anos depois o acústico MTV embalou a viagem de fim de ano da turma do colégio.   No meu aniversário de 15 o presente mais comemorado foi o CD Mais do mesmo e ouvíamos Dezesseis repetidas vezes, intrigados com a história de João Roberto, já na faculdade descobri o que é ter medo de baratas voadoras e recentemente, depois de uma dura perda, fiquei me lembrando que a vida continua e se entregar é uma bobagem. Renato tinha morrido, mas a Legião urbana ainda estava em nossas vidas. Os anos foram passando e eu sempre descobria outras músicas que adorava ou relembrava as velhas. Mas restava um grande pesar: não ter tido a chance de ir a um show. Até que o Dado Villa-lobos esteve em BH.

Fiquei sabendo que o Dado ia cantar em uma pequena casa de shows e resolvi tentar a sorte, pensando que não tinha nada a perder. Não esperava muito, mas o risco também era baixo. Cheguei e vi na tela da bilheteria que haviam sido vendidos menos de 300 ingressos e comecei a pensar que era um fracasso anunciado. Mas Dado me surpreendeu. Ele cantou e tocou e deixou o público cantar com se fosse para milhares de pessoas e eu me emocionei como se Renato Russo e Marcelo Bonfá estivessem ali. Foi maravilhoso ter companhia para cantar e gritar todas as letras da adolescência e por alguns momentos achei que eu fosse até chorar! :) Dado foi lindo, cantou músicas da carreira solo, mas a maioria foi da Legião, falou sobre a vida, sobre o filho e no final até se sujeitou a dividir o palco com um cover do Renato, que pulava por todos os lados do palco, derrubando instrumentos. Um pouco antes desse cover entrar algumas pessoas começaram a gritar o nome do rapaz, como se não fosse importante o Dado ali, outras gritavam coisas histéricas e o atrapalhavam. Visivelmente descontente Dado até disse algumas palavras, pedindo que as pessoas esperassem pela entrada do Renato fake, mas continuou seu show maravilhosamente e no final eu só queria lhe dar um abraço e agradece-lo por, mesmo sem precisar, continuar fazendo aquilo, por me dar a oportunidade de viver esse sonho, que eu nem imaginava mais que fosse possível.