domingo, 31 de maio de 2015

Eu penso, tu pensas

Em um passado não muito distante eu já fui contra o bolsa família e como argumento eu repetia a velha história de ensinar a pescar e não dar o peixe. Hoje, após muita pesquisa (nem sempre minha, mas muitas vezes de quem queria me convencer do contrário), eu entendo que a situação era/é muito mais urgente e não dava tempo de ensinar pescaria para ninguém, preciso mesmo era dar peixe para todo esse povo. Outro argumento que muita gente usa é que o bolsa família faz as pessoas "ficarem preguiçosas", ou seja, não procurarem trabalho. O que essas pessoas não sabem é que o pagamento médio do bolsa família é de 130 reais. Então me digam: alguém que ganha 130 reais do governo pode ser dar ao luxo de parar de trabalhar? Outro ponto, é que o custo do programa é inferior a 0,5% do PIB do país. Isso mesmo, praticamente nada! A minha mudança de opinião concretizou-se após eu ver o vídeo abaixo, entitulado Severinas, e produzido pela incrível agência apública.



Então tá... 13 milhões de famílias são atendidas e histórias como as das mulheres desse vídeo multiplicaram-se. Mas já passaram-se dez anos do início do programa e eu, apesar de não ser mais contra a doação, me pergunto como pode ser feito mais. Me pergunto o que pode ser feito para que essas  mulheres possam escolher seus destinos e não apenas viver a "sina" que lhes foi dada. Elas precisam ter acesso a meios contraceptivos e poder escolher não ter mais filhos, ou até  mesmo não ter nenhum. Vemos no vídeo que algumas meninas já entenderam esse recado e não querem ter a vida de suas mães, mas pelo jeito ainda é uma pequena parcela. Em um cidade onde uma menina de 18 anos é considerada velha e estranha por ainda não ter casado, como pode ser a vida dessas crianças que se casam aos 13, 14 anos? Tudo bem, o dinheiro, de alguma forma empoderou essas mulheres. Mas é só isso? Paramos por aí? De que forma a economia desses lugares poderia ser desenvolvida? Chego até a pensar se esse é um tipo de lugar para se habitar, nesse momento eu diria que não. São cidades mortas. Cidades onde uma grande parcela depende de auxílios do governo ou do funcionalismo público e que se nada for desenvolvido ali, nunca deixarão de ser tão dependentes.

Partindo do pressuposto que não podemos mais "salvar" esses pais, mas que o foco é na geração de seus filhos, que foram para escola, ainda não vejo uma solução eficaz. Vide os índices de reprovação ou a qualidade da educação nessas escolas. E ainda a quantidade de crianças que abandonam a escola, seja por desmotivação, por gravidez na adolescência ou por ainda não enxergarem perspectivas. Ainda assim, se o aluno superar todas essas dificuldades e terminar seus estudos terá que sair de sua cidade para continuar a formação e depois nunca mais poderá voltar, pois não há mercado de trabalho. É preciso fazer mais, é preciso pensar no futuro.

Quando eu era pequena eu achava que mudar de opinião era um absurdo! Se eu falasse uma coisa tinha que ir com aquilo até o fim, mesmo que depois surgissem novos fatos e dentro de mim eu mudasse de opinião, a constatação jamais sairia da minha boca. Hoje acho que mudar de opinião faz parte do processo de amadurecimento e é sinal de que a gente pensa e questiona. Convido você também a pensar e questionar.

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