quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Antonio. Nu, de botas.


Ganhei o Antonio Prata de presente. Na verdade, ganhei seu livro, mas foi como se eu tivesse ganhado um amigo. Aquele que te conta histórias engraçadas na mesa de um bar e arranca lágrimas dos seus olhos, de tanto rir. E depois disso ele ainda te deixa essas histórias para contar para os seus outros amigos e permitir lágrimas misturadas a risadas e dores de barriga por longos períodos.

E assim foi, Antonio Prata me contou suas histórias de infância e me fez querer compartilha-las com todos os meus amigos, mais que isso, me fez querer dar seu livro a todos os meus amigos, pois tenho a consciência que o seu jeito de contar as histórias é muito melhor que o meu. Passei uma semana só falando dele, fiquei feliz quando a primeira amiga convidou para o aniversário e eu já tinha o presente certo para dar. E dupliquei de felicidade quando ela disse que estava adorando o livro, mesmo sabendo que não tinha como não gostar.

Com sua visão infantil, de quem está descobrindo o mundo, Antonio não nos poupa de suas análises daquele tempo, como quando descobre que, apesar de terem a mesma planta, nem todas as casas eram ocupadas da mesma forma que a sua e nos confidencia: 

"na casa do Henrique, por exemplo, a televisão estava onde deveria ficar a mesa de jantar, a mesa de jantar onde deveria estar o sofá, o quarto dele era onde, lá em casa, ficava o quarto dos meus pais e vice-versa. Sem falar na casa do Rodrigo, onde os pratos era azuis. Como poderiam não saber que os pratos são brancos? 
Tinha pena dos outros, hereges, vivendo errado."

E por aí vai, a vida na vila, os amigos, a separação dos pais. Histórias de crianças, que geralmente ouvimos dos adultos agora são contadas pela ótica do pequeno ser. Crianças me encantam e com Antonio não foi diferente. A cada conto ele vai ficando melhor e após a metade do livro, só tinha o que rir daquela criança e de suas histórias e comecei a achar que Gregório Duvivier havia exagerado um pouco quando relatou que havia chorado com esse livro. Pensei: está tudo tão leve e engraçado, não vai acontecer de chorar. Foi quando me deparei com Sorvete e bala. E chorei. Chorei porque me vi naquelas crianças, chorei porque tinha aquele medo de perder os pais muito cedo, mesmo não me lembrando de, naquela idade, ter tido conversas tão profundas com meus pais, me lembro do sentimento. Com esse texto, Sorvete e Bala, o mesmo Mário, pai de Antonio, que me deixou perplexa e me fez rir alto com seu comportamento em Blowing in the wind (que já havia sido publicado e pode ser lido aqui) agora me emocionava e encantava. Antonio explica: 

"Meu pai nunca entendeu que eu e minha irmã não tínhamos a mesma idade que ele. Isso não se restringia a nós nem mudou com o tempo: até hoje ele conversa com uma criança de três anos de igual para igual, o que faz com que elas o adorem." 

Não sou mais criança, mas também adoro o pai de Antonio, mesmo entendendo a posição contrária da mãe com relação à sua extrema honestidade para com os filhos. 

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